quinta-feira, 6 de abril de 2017

Para os dias de não festa. Ou, saudades do que poderia ter sido.



Olha o calendário. Vê que dia é hoje. 
Há três meses vc me olhou. E eu te olhei de volta, distraído. Talvez eu tenha olhado antes, não sei. Mas estava distraído. E você me olhou. Eu lembro bem disso. 
E deveria ter parado aí. Como tantos outros olhares cruzados no mundo todos os dias. Que se perdem e ao mesmo tempo se perpetuam naquele momento. 
Mas não parou por aí. E há três meses, nesse mesmo dia, você entrou pela caixa de mensagens e puxou assunto. E em algumas horas você foi da caixa de mensagens para a minha cama. 
Há três meses, naquele instante em que te recebi na porta, ao te abraçar, eu sabia que tudo havia mudado em mim. Eu sabia disso quando o teu cheiro entrou pelas minhas narinas e reverberou aquele calafrio por todo o meu corpo. E já ali, consegui sentir o medo que atormenta os que não querem ficar longe. 
A noite foi surpreendente. Talvez porque eu não esperasse por nada demais. Talvez não tenha sido nada demais na verdade. Mas já estava sendo tudo pra mim. E aí, depois da euforia do sexo, vieram teus olhos. Ah... os teus olhos! Indecifráveis. E tão penetrantes que era quase impossível olhar para eles sem sorrir desconcertado. E acho que depois de muito tempo foi a primeira noite que dormi sorrindo. 
Eu nunca te contei, mas acordei várias vezes durante aquela noite pra te olhar dormindo. Era como se você fosse meu de verdade. Mas não era. A manhã te levou de mim. E deixou a promessa de te devolver pela noite. Assim foi. Pelos dias seguintes. 
Eu já sabia que a partir dali eu viveria de angústia e dor por tua causa. Mas segui. Naquela noite e nas outras. E então percebi que, quanto mais eu me entregava, mais você fugia e se fechava. O movimento era proporcionalmente contrário. 
Sabe? Você deveria ter ido embora naquela noite que te pedi pra ir. Mas você não foi. Naquele momento você já sabia o estrago que iria causar na minha vida ao ficar ali. Eu te falei isso. E eu já sentia que depois daquela noite você não voltaria mais. 
Nessa noite, eu não sorri mais. Nas outras, eu só chorei. Mas vc não estava mais aqui para saber. E quando te pedi ajuda, quando te pedi respostas, você se calou. Na nossa última despedida vc me perguntou pq meus olhos pareciam tristes, e eu respondi que estava triste porque sabia que à partir dali você desapareceria da minha vida. Você sorriu como se eu fosse um tolo e jurou que isso não aconteceria. Mas foi o que aconteceu. Eu consigo ler as pessoas. E isso não é um dom, às vezes é uma maldição. 
Lembra daquele sentimento? Aquele que te assusta e que você dizia ser impossível eu sentir por você em tão pouco tempo? Pois é, hoje faz três meses que o sinto. Em cada molécula do meu corpo, em cada pensamento fugitivo, em cada minuto do meu dia, em cada suspiro sem esperança de que algum dia isso passe. 
Eu ainda espero, mesmo me sentindo um tolo, e sabendo que não vai acontecer, mas ainda espero... talvez a palavra seja fantasio, já que sei que não vai acontecer, então fantasio aquele dia que vc vai chegar, por uma mensagem, por uma ligação, ou pela porta da frente, dizendo que reconhece que errou, que foi cruel, e que espera minhas desculpas. Dizendo que conseguiu, como planejado, as férias pra vir me ver. Dizendo que foi tudo um erro e que não vai mais descuidar de mim. 
Talvez, depois disso, tudo passe. A tormenta, a angústia, a dor... o am... aquilo que não posso dizer que sinto. 
Talvez Vinícius e Tom tenham razão: 

"Vai, meu coração pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado"

Pode ser que então, depois de te perdoar porque você reconheceu que não foi bom comigo, eu consiga seguir em frente, livre desse lixo emocional que carrego desde aquele dia e que me pesa tanto. Talvez eu siga por um caminho e você por outro. Sem mágoas, sem arestas arranhando, sem olhar pra trás. Mas com a certeza da honra, da dignidade, do caráter, do respeito. 
Daqui a quatro dias é meu aniversário. Seria um bom presente. Seria o melhor presente. Mas assim como a mensagem que te mandei no teu aniversário e você ignorou, sequer agradeceu, eu sei que isso vai ser apenas um sonho, como a festa surpresa de aniversário que nunca tive. Mas, sabe? Talvez sempre tenha sido só um sonho. Um sonho só meu. 
Sabia que de dois anos pra cá eu organizo festas surpresas pra mim mesmo no meu aniversário? É divertido, e triste também. Não é loucura. É desistência. Cansei de esperar alguém que queira, de repente, me fazer sorrir, me fazer um bem. Alguém que queira cuidar de mim e mostrar isso com ações. 
Talvez eu me mande uma mensagem de aniversário em seu nome, falando tudo que eu queria que você falasse. Afinal, sempre fui eu quem falou tudo. Você era o que ficava calado, fugia, escondia as respostas. Pode ser triste, mas pode também ser a última ânsia de felicidade. 
E pra você, que não vai ler isso, saiba: ainda está tudo aqui. Como já estava no primeiro dia. E você não conseguia acreditar. Não que isso mude em algo o seu comportamento comigo. Mas eu só queria te dizer que eu sempre estive disposto a tudo, e fui verdadeiro. Que tenho medo e vergonha de dizer que talvez ainda esteja disposto. Mas você, até onde mostrou, não.
Então vou morrendo desse sonho a cada dia. Pois os sonhos não realizados, os sentimentos não entregues, as palavras não ditas, os momentos não compartilhados, vão apodrecendo em nós, e nos envevenando aos poucos. 

Acredito que é isso o que chamam morrer de amor. É morrer e continuar vivo. Sentindo-se morrendo uma nova morte a cada novo dia de ausência.